Dias de arraste

Os pequeninos andam com diarreia. Hoje é quinta-feira, e Bernardo está assim desde sábado.
Bernardo continua a não querer fazer a sesta e como tal, após o almoço (que opto sempre por arrastar mais para a tarde - porque temos ido buscar a Iara e vamos quase todos os dias a algum lado comprar qualquer coisa - porque gostam, porque me custa menos isso do que enfiá-los na carrinha, estacionar, meter Iara na carrinha e virmos para casa), está sempre esgotado, menos paciente, cansado, birrento.
Eu a essa hora sinto que já estou de rastos também - que me perdoem as pessoas que acordem cedo e vão trabalhar como o pai, mas esta é a verdade.
Hoje acordei a relembrar o ano e meio de terror que vivemos, tenho pensado em como por vezes penso em guardar o choro para a noite e fazer a descarga ao cólo do pai, mas a realidade é que passei os piores tempos da nossa vida a proibir-me de ir abaixo, de chorar, de me mostrar descrente que as coisas iam correr bem. E de repente, sinto necessidade de pedir confirmação de que o fantasma (várias vezes acordado após a remoção do demónio) não voltará. Hoje de manhã perguntei ao pai por mensagem se poderia descansar este meu medo. Duas horas depois a minha mãe veio cá a casa e disse que o meu irmão, o tio Pedro vai remover um testículo tumorizado.
Fiquei melancólica o resto do dia, com peso na barriga (quando a mãe fica triste, a barriga fica pesada). E muita vontade de chorar. O pai adormeceu enquanto a Violeta adormeceu. Estou sozinha, novamente.
Vocês pequeninos, fazem-me rir, fazem-me feliz, dão-me vontade de tudo de bom!
Mas, a mãe está a ir abaixo. Eu não sei porquê. Mas está.
Sei que vou levantar. Passará. Mas até lá, sejam brandos comigo. Não demores uma hora em cima do meu cólo a adormecer Violeta - é uma coisa que me custa. Come alguma coisa Violeta. Grita menos, pai. Não faças birras, Bernardo.
E tudo ficará bem.

Tudo ficará bem. Caralho.

A mãe.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Olá filhotes - mudanças

A poesia espiritual

Montes de amor