A dor da morte

Há quase um ano muitas famílias inteiras morreram queimadas dentro de carros, bloqueadas nas estradas estreitas sem visibilidade por causa de incêndios enormes e entregues a si mesmos. Florestas e florestas a arder, a queimar à velocidade da luz, com todo o calor e pouca humidade, como se o diabo estivesse à solta na terra.
Hoje fui espreitar fotos de uma família em que no ano passado partilhei apelos de familiares que desconheciam o seu paradeiro. A conclusão foi a mais triste possível. O bebé que lembrava o meu Bernardo na altura, e a menina com a idade da minha Iara. Senti um grande aperto a ver fotos de uma família tão como nós, tão feliz de férias e em passeio, e tão não merecedora do seu fim.
Não devia ser possível pessoas boas terem de partir em sofrimento. Seja por intoxicações, queimaduras, apedrejamento, afogamento, ou morte lenta e tratamento insuficiente como o caso de cancros ou tumores malignos. Nem por nenhuma outra causa maligna, demoníaca, que em nada poderá ter a mão de um ser superior bondoso, generoso e protector.
Nas horas de mais aflição chamamos por Ele. Eu chamo, mas na maior parte dos dias no fundo, desacreditamos que exista realmente alguém a tomar conta de nós (e isso pode ser ingratidão da nossa parte).
Quero acreditar que o acaso, tanto feliz quanto infeliz tem o controlo de alguém.
Quero acreditar que temos o pai connosco aqui hoje inteiro e bem porque alguém o protegeu. E quero sentir-me grata por isso todos os dias.
Quando o pai teve o acidente de mota, o meu sentimento além da pena e incapacidade de lhe tirar as dores, foi de gratidão por o ter connosco, vivo, consciente, falante, meigo. Vivo.
Tenho muito medo da morte. Morte de faltar aos nossos filhos. Medo que aconteça alguma coisa aos meus três bebés. Medo de que aconteça algo ao pai.
O pai já sofreu o inferno. Já merecia descanso. Para o resto da vida (longa).
Não o quero a fazer esforços para poupar dinheiro, voltando a sofrer e a gemer de noite com dores.
Preciso do pai, muito. Preciso dele bem. Não quero que ele se desmanche. Quero que tenha aprendido a escutar o seu corpo e a não se extrapolar nos esforços a troco de menos gasto de dinheiro.
Quero que o pai se recorde da sensação de gratidão por estar aqui e consiga com isso, limpar a alma e sentir que dar todo o amor que tem é a solução para a sua felicidade.
Amo muito o vosso pai. Sinto que estou com ele desde sempre, que me protege e dá cólo desde sempre.
É o meu companheiro de vida, com o qual quero envelhecer ao lado, ser feliz ao lado, ver-vos a vocês, meus filhos, felizes, juntos.
Que este ano não haja incêndios. Ou se houver, que ninguém tenha de sofrer e morrer por causa disso.
Demónio do caralho, que mal fazes a crianças que têm o azar de nascer no meio de países disfuncionais, que têm o azar de crescer no seio de famílias demoníacas, já chega de maldade em cada esquina.
Só quero abraçar os que tenho e que nada de mal aconteça...
Obrigada pai por estares connosco. Pai Eduardo. E obrigada ao alguém que te permite estar aqui...
Que não haja incêndios.
Obrigada...

A mãe.

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