Problemas de comunicação

A mãe não fala muito. O pai tem mais assunto, e fala. E quando fala, ele fala. A mãe tenta ouvir. Vocês interrompem. A Iara, sabendo que tem de respeitar a vez, aguarda o momento mais certo para falar. Bernardo, ainda não conhecendo algumas boas regras, fala por cima de quem esteja a falar.
Quando a mãe fala com o pai, a mãe continua a falar com o pai e diz para aguardarem as interrupções.
O pai quando ouve a mãe, vai respondendo em simultâneo ao Bernardo, ficando eu a falar sozinha até me calar.
Isto deixa-me triste.
Se eu quando estou com o pai, estou quase sempre com vocês, se o pai não gosta de ser interrompido e quando quer falar, tem de falar (ou fica mesmo chateado, mesmo que não o faça voluntariamente), já quando a mãe fala com o pai e algum de vós interrompe e o pai vos responde, sinto-me deixada para trás, porque nunca assim, poderei falar com ninguém, porque estou sempre com vocês! Já reparei que a avó Lili faz o mesmo. Se eu estiver a contar algo e o Bernardo aparece a perguntar algo, ela vira-se de imediato para ele e eu interrompo e acabo por acabar ali a conversa.
No fim, sinto a maior parte das vezes que ninguém me ouve. Que se nem me perguntam novamente o que estava a dizer, é porque nem me querem ouvir.
E eu nunca estou com adultos sozinha, estão sempre vocês.
Isto não pretende ser uma queixa, mas sim um desabafo, de como é duro sentirmos que mesmo em adultos, somos as crianças silenciosas, que não dão trabalho nenhum, e como nos mantemos invisíveis em adultos.
A auto-estima mantém-se uma merda. E não nos sentirmos ouvidos nem quando falamos, não nos faz muito bem ao ego.
Queria conseguir passar para aqui a ideia de que, quando adultos falam, os adultos falam (nos seus poucos minutos e ignorando as centenas de interrupções momentaneas que as crianças se lembraram no momento), e as crianças, é que têm de esperar que a frase termine, não havendo desrespeito por ninguém. Ou então, até numa conversa banal de adultos, os miúdos têm prioridade para dizer que o cãozinho boneco fez cocó no troley da doutora brinquedos.
A mãe gostava de não se sentir invisível, mesmo que seja para dizer que o dia correu bem ou foi um caos.
Afinal de contas, os meus assuntos são miúdos. E os adultos com que falo são praticamente dois. E esses dois, me vão ignorando durante as curtas conversas. E isso dói para caralho. Já que o estaminé é meu, aqui dizem-se asneiras.
É uma da manhã, a mãe está acelerada, com medo de me deitar para mais uma noite do cagalhão em que se sentirá um farrapo de mãe.

A mãe.

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